Há dias (ou melhor, anos) eu ensaiava fazer o meu primeiro post aqui. Eu tive um blog há 10 anos atrás, já sobre gastronomia, vinhos e cervejas. O nome era Gourmmelier, uma junção entre Gourmet e Sommelier. E isso foi antes do termo "gourmet" se tornar uma palavra insuportável em todos os restaurantes do país.
Depois das redes sociais se transformarem em rios de vídeos, eu sentia saudade de poder contar mais com palavras e longos posts descritivos sobre coisas, lugares e histórias. E não aqueles takes de 0,5 segundos feitos para você repetir o vídeo duzentas vezes e ajudar o engajamento.
Se você gosta de história, já aproveita e pega um café, uma cerveja ou um vinho e vem ler as palavras abaixo. Prometo (ou não) que esse merecidamente será um dos únicos posts grandes que desejo fazer. Afinal, não é todo dia que a gente pode contar a nossa história :)
Aqui estou, no meu primeiro site de verdade! Esse projeto foi ninado durante muitos tempo e nasceu há alguns meses. Faltava um pouco de tempo para os ajustes finos mas, antes tarde do que nunca, cá estamos!
Morar na Itália sempre foi o meu maior sonho, assumo que era um sonho dividido com Nova York, mas a Itália sempre teve aquele charme extra que me deixava chorosa toda vez que tinha que partir no final de uma viagem por aqui.
A minha história pessoal com esse país começou em 2010, quando fiz a minha primeira viagem para a Itália. Os primeiros anos vindo para cá eram viagens (sortudas diga-se de passagem) de trabalho.
Eu me formei em Relações Internacionais e como todo bom jovem, ao fim da faculdade me perguntei: "E agora?". Uma grande amiga havia trabalhado em uma importadora de vinhos e logo me disse "eles estão precisando de alguém para a área de importação, entra em contato com eles."
E essa foi a grande virada de chave da minha vida, e eu nem tinha ideia disso.
O ano era 2008 e eu tinha lá meus 21 anos. A função era na área de importação da empresa, seria responsável por cuidar de toda a parte operacional da importação dos vinhos. Conferir faturas de importação, análise de rótulos e contra rótulos, contato com produtores, revisão de documentos, contato com despachante aduaneiro e agentes de carga, cálculos de armazenagem portuária, impostos e toda a sorte de coisas operacionais e burocráticas possíveis.
No meio de todos esses papéis, e-mails, prazos apertados e estoque curto, tinham os vinhos. Me lembro como se fosse hoje quando a Rose, minha chefe que hoje é amiga, me chamou na sala de reunião para provar um vinho.
Eu não entendia nada de vinhos. Estava na fase ainda de tomar cerveja barata nas festas da faculdade que saiam do cooler que estava na mala do carro de alguém.
Mas eu já era fascinada por aquele universo que para a grande maioria dos brasileiros é um mundo à parte, de luxo, vinhos caros e comidas com nomes difíceis.
E assim começamos, provava um vinho vez ou outra, participava de reuniões com produtores que vinham nos visitar e apresentar seus produtos à fim de que tivéssemos interesse em incluir no portfólio.
Os meses foram passando e eu fui participando cada vez mais, ganhando umas garrafas de vinhos das tantas que recebíamos como amostra para provar.
Aliás, eu fiquei 8 anos trabalhando nessa importadora de vinho e tinham duas coisas que me faziam genuinamente feliz: As viagens para a Itália a trabalho e as amostras que eu ganhava de vinhos que nunca seriam importados mas que precisavam ser bebidos por alguém!
E foi justamente essa combinação de fatores somados a inúmeras feiras de vinhos no Brasil e fora, que a paixão pelo mundo dos vinhos foi aumentando.
Tá, mas e onde entrou a gastronomia nisso tudo? Apesar de parecer óbvio, pois quando pensamos em vinho, pensamos automaticamente em comida, a gastronomia entrou na minha vida também pela vivência que eu tinha no meu emprego nessa época.
Com certa frequência recebíamos a visita dos nossos produtores, ele iam visitar o mercado, ver onde os vinhos estavam sendo vendidos, como estavam posicionados, e claro, conhecer os restaurantes onde eles estavam na Carta de Vinhos. E também fazíamos eventos para aproveitar a oportunidade deles no país, para falar com o público e também para reunir os donos dos melhores restaurantes das cidades que ele visitava.
Quando eles estavam no Rio eu muitas vezes acompanhava essas visitas, e isso implicava também nos almoços e jantares que eu estaria. E na grande maioria das vezes era nos melhores restaurantes do Rio e São Paulo, onde bebíamos os melhores vinhos da vinícola, e o próprio chef vinha interagir e explicar sobre a harmonização que tinha criado.
Foi um amor cultivado aos poucos e com muita consistência. Sempre que eu pensava na possibilidade de trocar de emprego vinha uma viagem ou uma visita dessas que me diziam "esse é o melhor trabalho do mundo."
No meio do caminho o amor pelos vinhos e pela comida realmente se tornou coisa séria. Fiz o curso de Sommelier de vinhos da ABS Rio. E não contente, em 2014 bem no auge do boom das cervejas artesanais, com todos os meus amigos indo para bares provar as mais diferentes cervejas, eu percebi que não entendia a diferença entre Lager e Ale.
Resolvi fazer o curso de Sommelier de Cervejas do Senac/Doemens Academy e um novo universo paralelo se abriu na minha mente. Eu me apaixonei pelo fantástico universo dos estilos de cerveja, e mais ainda pelas harmonizações inusitadas que elas me proporcionavam.
E assim, em 2016 eu vi um anúncio de um amigo sommelier de cervejas no Facebook (sim, a gente ainda usava Facebook para se comunicar naquela época): "Você quer o emprego dos sonhos, trabalhando com cervejas artesanais? Envie um e-mail para... e era o endereço de e-mail da Bê Ruiz, uma das maiores Sommelières de Cervejas do país. Eu fui trabalhar na maior cervejaria do mundo, e ela viria a ser minha primeira chefe na Ambev, e grande amiga também.
Os meus cinco anos na Ambev foram uma jornada deliciosamente insana e enriquecedora.
Se eu devo tudo que me tornei em relação a paixão pelos vinhos e gastronomia à importadora, eu devo à Ambev o meu amadurecimento como pessoa e profissional, o aprendizado de gestão, processos, a importância do trabalho em equipe e que "Sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho!" - Jorge Paulo Lemann.
Minha primeira função foi como Hop Team, cargo que eu carinhosamente carregarei como o melhor nome que já tive em um cargo. Éramos um time de Sommeliers de Cervejas espalhados pelo Brasil ensinando sobre Conhecimento Cervejeiro. Era época da aquisição da Wäls e da Colorado, o mercado estava ouriçado.
A parte principal do nosso trabalho era fazer treinamentos para o time comercial e nos pontos de venda, jamais esquecerei o prazer e a diversão de ver pessoas provando sua primeira IPA e fazendo cara de quem acabou de tomar chá de boldo!
O que eu mais ouvia naquela época era que a paixão pelo que eu fazia emanava dos meus olhos. Eu amava falar sobre comida e cerveja!
Não a toa hoje eu digo que tenho o trabalho dos sonhos: Eu levo vocês para passear e falo sobre vinho, comida e cerveja... EM ROMA!
O tempo passou, as pessoas e chefes vão mudando e os cargos também. Fui supervisora de vendas das cervejas especiais, depois Gerente de On Trade na Regional Rio, sempre cuidando das minhas filhas: Colorado, Wäls, Goose Island, Patagônia, Hoegaarden, Leffe, Franziskaner.
Eu vi o nascimento da Colorado Ribeirão Lager e carinhosamente apelidei de "minha filha". Eu rodei o estado do Rio e Espírito Santo para anunciar que ela havia chegado! E segue sendo uma das minhas preferidas.
Desde que eu e o Pedro nos conhecemos em 2014 ele sabia que o meu grande sonho era morar na Itália.
Em 2017, durante uma merecida viagem de férias durante um mês pela Itália, que nasceu a vontade de realmente fazer as malas de vez. Ano vai, ano vem, de formado em Contabilidade e funcionário do BNDES, ele se tornou estudante de medicina em Roma.
Ele chegou em outubro de 2019, e eu viria em abril de 2020. No meio do caminho, Covid-19. Um pandemia parou o mundo, fechou fronteiras, aeroportos, e deixou todos os seres humanos do mundo apreensivos.
Mas finalmente em 2021 eu consigo realizar o meu sonho de vir morar na Itália!
Durante todo esse período do planejamento eu imaginava o que faria aqui. Ao mesmo tempo que tomava coragem para largar o meu emprego e a carreira que estava construindo na Ambev.
E foi em 2019 que veio a inspiração. Eu encontrei no Instagram duas mulheres americanas, escritoras culinárias, que faziam tours gastronômicos pela Itália. E assim descobri a minha profissão dos sonhos e decidi que quando chegasse na Itália era isso que eu ia fazer.
E cá estamos, em 2023 e o sonho sendo realidade todos os dias.
Hoje tenho o prazer e a satisfação de apresentar o melhor da comida, bebida e da cultura gastronômica italiana para vocês por aqui, e espero que vocês embarquem comigo nessa jornada!
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